quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A LÍNGUA E SUAS VARIEDADES

Não é o domínio da variedade culta que permite o acesso ao conhecimento; ao contrário, é o acesso à cultura e à informação que amplia o conhecimento lingüístico. Todos os níveis da linguagem são legítimos, desde que inseridos em contexto sociocultural próprio.

QUANDO A LINGUAGEM CULTA É UM FANTASMA

INICIAREMOS OS NOSSOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS COM O TEXTO: QUANDO A LINGUAGEM CULTA É UM FANTASMA DE LOURIVAL VIANA QUE FARÁ INTERTEXTUALIDADE COM O TEXTO DE MARCOS BAGNO, ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE. PARA COMPLEMENTAR O ESTUDO, FAREMOS A LEITURA COM DISCUSSÃO EM SALA DE AULA DO LIVRO A LÍNGUA DE EULÁLIA DE MARCOS BAGNO. SUCESSO! NOSSOS ENCONTROS SERÃO MARCADOS COM MUITO ENTUSIASMO E CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES. JUNTOS NÓS FAREMOS GRANDES PROEZAS!!!
Professora Vilma

Quando a linguagem culta é um fantasma
Antes de entrar-se no exame do problema do empobrecimento cada vez mais acentuado da linguagem dos jovens, é preciso estabelecer que em qualquer idioma há vários níveis de expressão e comunicação: popular, coloquial, culto, profissional, grupal, etc. As diferenças entre esses níveis são evidentes, por isso facilmente demarcáveis. Basta comparar, por exemplo, a chamada "fala dos magrinhos" com a de um deputado em sua tribuna.

Assim, as dificuldades do jovem não estão, a rigor, na sua incapacidade de expressar-se. No seu grupo - e aí é que vive a maior parte de seu tempo - certamente ele não sente o menor embaraço para dizer o que quer entender o que os amigos lhe falam. A comunicação se faz... perfeição, sem quaisquer ruídos: "Sábado vou dar um chego lá na tua baia tá?" E a resposta vem logo, curta e precisa: "Falô! Vê se leva o Beto junto! Faz tempo que ele não pinta lá, depois a gente sai pra dar uma banda".
Esse é o nível de sua linguagem grupal. Um nível meio galhofeiro e rico de tons que ele domina galhardamente. Está como um peixe dentro de seu elemento natural. Movimenta-se com segurança e muito consciente de sua capacidade expressional.
As dificuldades que experimenta - e que o fazem inseguro e frustrado - estão na aprendizagem da língua "ensinada" na escola. A língua culta representa para ele um obstáculo intransponível, uma coisa estranha que o assusta e deprime. É fato compreensível. Para o jovem, habituado à fala grupal, à gíria, ao jargão de seus companheiros de idade e de interesses, a norma culta surge como um fantasma, um anacronismo com o qual não consegue estabelecer uma convivência amistosa. Se passa 23 horas e 10 minutos a dizer “tu viu”, “eu vi ela”, “ me alcança a caneta”, “ as redação”, como irá nos 50 minutos de aula de português, alterar todo o comportamento lingüístico e aceitar sem relutância que o certo é “tu viste” “eu a vi”, ‘ alcança-me a caneta”, “as redações”?
A força coercitiva da escola é pouca para opor-se... avalanche que vem de fora. É, pensando bem, quase uma violência que se comete contra a espontaneidade da linguagem dos jovens, principalmente quando o professor não é suficientemente esclarecido para dar-lhes a informação tranquilizadora de que todos os níveis de linguagem são legítimos, desde que inseridos em contexto sócio-cultural próprio. Explicar-lhes, enfim, por que a escola trabalha preferencialmente com o nível linguístico da norma culta. Isso os tiraria da situação constrangedora em que se acham metidos e que se manifesta mais ou menos assim: "Não sei como é que eu não consigo aprender português!"

VIANA, Lourival. Quando a linguagem culta é um fantasma. Correio do Povo.
1ª) Pela leitura do texto, é correto concluir que o autor:

A) aponta as razões para o empobrecimento vocabular que caracteriza os jovens de hoje.
B) critica o modo como os jovens falam entre si.
C) justifica a coerção que a escola exerce sobre a fala espontânea dos estudantes.
D) alerta os jovens que se sentem inseguros em relação ao idioma para a necessidade de aprenderem a norma culta da língua na escola.
E) defende a legitimidade da fala dos jovens como instrumento de comunicação utilizado em seu grupo.
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2ª) As informações apresentadas no texto são suficientes para responder à pergunta:
A) Como a escola poderia se opor às influências negativas que atingem a linguagem dos jovens?
B) Que influência têm os meios de comunicação sobre a fala dos jovens?
C) Por que a escola deve trabalhar preferencialmente com o nível culto da língua?
D) Como deve proceder o professor de português em relação à linguagem dos jovens?
E) Por que os jovens não conseguem aprender português?
3ª Conforme a conclusão do texto, quando cada um dos níveis de linguagem é considerado legítimo?
4ª O autor usa os termos linguagem, língua e fala, faça uma pesquise e encontre a definição de cada termo.
5ª Como o autor justifica as dificuldades dos jovens em estabelecer uma convivência amistosa com a língua culta ensinada na escola?
INTERTEXTUALIDADE
Ao lermos o texto seguinte, iremos perceber a estreita relação que o mesmo terá com o primeiro texto que lemos, essa afinidade, dá-se o nome de intertextualidade. OBSERVE:

ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE

Escritor e lingüista denuncia o preconceito lingüístico e considera absurdo dizer que os brasileiros não sabem português
Flávio Lobo - Revista EDUCAÇÃO, n.º 26 -julho de 1999
O brasileiro sabe o seu português, o português do Brasil, enquanto os portugueses sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais feio ou mais bonito: são apenas diferentes um do outro."Nesse trecho de seu livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz, Marcos Bagno ataca a crença segundo a qual "brasileiro não sabe português e só em Portugal se fala bem português". Esse "mito" seria um dos pilares do que ele chama de "mitologia do preconceito lingüístico" – um conjunto de crenças equivocadas, responsável pela má qualidade e ineficiência do ensino do português nas escolas e pela dificuldade que muitos brasileiros têm no trato com a língua materna.
Para Bagno, o "erro de português" que amedronta, intimida e humilha tanta gente, simplesmente não existe. Haveria, na verdade, diferentes gramáticas para diferentes variedades do português. Cada uma delas perfeitamente válida em seu contexto. Todas merecedoras de respeito. Autor de livros para crianças, jovens e adultos, incluindo ficção e obras sobre língua e literatura, Bagno, que tem 44 anos, também é tradutor. Formado em Letras, com mestrado em Lingüística, fez doutorado em língua portuguesa na USP.
Desde a graduação, ele se interessou pela sociolingüística – disciplina que estuda as relações entre língua e sociedade – e pela revisão dos conceitos de "norma culta", "norma padrão", do que é certo e errado na língua. Estudos e revisões que, segundo ele, não têm sido acompanhados por muitos dos que se apresentam como especialistas no debate sobre o ensino e a situação da língua portuguesa no Brasil.De acordo com Bagno, existe uma "briga" entre dois grupos no campo das questões lingüísticas e gramaticais. Um é composto por lingüistas, verdadeiros especialistas no assunto. O outro seria o dos "puristas", defensores de uma tradição gramatical dogmática e anticientífica
"As pessoas que falam e escrevem sobre a língua na mídia em geral são jornalistas, advogados ou professores de português que não estão ligados à pesquisa, não participam do debate acadêmico, não estão em dia com as novas tendências da Lingüística – são os que eu chamo de gramatiqueiros", critica Bagno. Para ele, esses "pseudo-especialistas", ao tentar fazer as pessoas decorarem regras que ninguém mais usa, estariam vendendo "fósseis gramaticais", fazendo da suposta dificuldade da língua portuguesa um produto de boa saída comercial.Outro "mito" tratado no livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz é a idéia, bastante difundida, de que a língua portuguesa é difícil. Bagno afirma que a dificuldade de se lidar com a língua é resultado de um ensino marcado pela obsessão normativa, terminológica, classificatória, excessivamente apegado à nomenclatura. Um ensino que parece ter como objetivo a formação de professores de português e não a de usuários competentes da língua. E que ainda por cima só poderia formar maus professores, já que estaria baseado numa gramática ultrapassada, que não daria conta da realidade atual da língua portuguesa no Brasil.
Ele acredita que se, em vez disso, os professores se concentrassem no que é realmente importante e interessante na língua, se ajudassem os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão, não haveria tanta gente – depois de anos e anos de estudo – em pânico diante do desafio de escrever uma pequena redação no vestibular.
As críticas que faz à gramática tradicional não devem ser confundidas com um "vale tudo" lingüístico, explica Bagno. "No campo da língua, na verdade, tudo vale alguma coisa", assegura o escritor. Mas esse valor dependeria do contexto, de "quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito".Quanto ao ensino nas escolas, diz ele, a norma culta deve mesmo ser o principal objeto de estudo. O problema estaria na definição da norma culta a ser ensinada.
A "norma culta idealizada", que só existiria nas gramáticas, deveria ser deixada de lado para dar lugar à norma culta real – identificável na fala e na escrita atual da população culta do país.As diferenças entre a norma culta das gramáticas tradicionais e a norma culta real, de acordo com Bagno, não são tão grandes. Elas parecem mais freqüentes e profundas, segundo ele, por causa do esforço feito pelos "gramatiqueiros" para preservar seus "dinossauros lingüísticos". "Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso", ironiza.
Interpretação – Falando das regras que vão contra a evolução natural da língua portuguesa no Brasil, Bagno cita casos como o do verbo assistir: "O professor pode repetir mil vezes que assistir é transitivo indireto, que o aluno sai da aula e diz que vai assistir o filme em vez de assistir ao filme. Muitos jornalistas, por exemplo, que se esforçam para escrever e falar ‘certo’ dizem que um milhão de pessoas assistiram ao filme, mas logo se traem ao dizer que o filme foi assistido por um milhão de pessoas – sendo que um verbo transitivo indireto não admitiria essa forma passiva.
"Outro exemplo seria o famoso se de vendem-se casas. Para Bagno, os brasileiros interpretam esse se não como uma partícula apassivadora, mas como índice de indeterminação do sujeito. Uma interpretação, assegura ele, perfeitamente razoável e legítima. "Eu mesmo, em meus livros, só escrevo vende-se casas, ensina-se matérias e não deixo os revisores ‘corrigirem’.
Desuso – Ele também não vê como erro, mesmo para quem pretende se expressar na norma culta, formas como vi ele em vez de o vi e a substituição dos pronomes seu e sua por dele e dela sempre que se referem a ele ou ela. "O brasileiro só usa seu e sua, com naturalidade, para dizer que algo pertence a você.
"Outras formas, há muito em desuso, como o pronome vós, na visão de Bagno deveriam entrar na sala de aula apenas como uma curiosidade da história da língua, mencionadas como algo que os estudantes vão encontrar em textos antigos. "Não deveriam mais ser cobrados como parte do conhecimento ativo, prático, dinâmico da língua."Para que a língua seja ensinada de forma dinâmica, prazerosa e eficaz, precisaria ser entendida pelos professores como algo vivo em constante processo de evolução – e não de corrupção. Os professores de português precisariam ter uma postura similar à de um professor de biologia ou física, "que sabe perfeitamente que muito do que ele está ensinando hoje pode ser reformulado ou mesmo negado amanhã", defende Bagno.
Também é necessário, segundo ele, que o trabalho de identificação e descrição da norma culta brasileira atual, que está sendo feito por meio das pesquisas universitárias, sirva como base para a elaboração de gramáticas dirigidas ao ensino escolar e aos falantes da língua em geral. "É um trabalho que eu mesmo quero começar a fazer quando terminar o doutorado", planeja.Bagno considera indispensável o incentivo ao uso da norma culta, especialmente nas manifestações lingüísticas de maior importância e alcance sociocultural e nas que visem a comunicação entre as diferentes regiões do país. Mas, como escreveu no livro Preconceito lingüístico, "esse incentivo não precisa vir acompanhado do desdém, do menosprezo, da ridicularização das outras inúmeras normas lingüísticas que existem dentro do universo brasileiro da língua portuguesa."- -
(in revista Educação, Segmento, São Paulo, p. 26-28, julho de 1999)
Estudo do Texto
1.ª) “A língua portuguesa é difícil “. Essa é uma idéia do senso comum bastante arraigada no meio escolar. Segundo Bagno, qual é a procedência desse “mito”, ou seja, dessa crença sem fundamento?
2ª) Releia o comentário feito por Bagno: “Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso”.
a) A quem se refere a palavra “eles”?
b) O que significa “tirar as teias de aranha da cabeça?
3ª) Qual a sua expectativa quanto ao estudo de Língua Portuguesa nesta escola, diante de tais reflexões apresentadas através dos textos estudados durante as aulas de Português?

Um comentário:

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